domingo, 2 de agosto de 2009

DEVANEIO

Quero viver um sonho, só um sonho,
Como aqueles contidos nos poemas,
Por uma noite só, um dia que seja.

Que não hajam casais dançando ao redor,
Que não tenha um copo sobre a mesa,
Que nem a mesa exista,
Mas que eu sinta o glamour de um grande baile,
Que músicas adentrem em meu espírito,
E me façam vagar.
Que eu me sinta um bêbado,
E que eu viaje infinito afora,
Dentre nuvens de algodão,
Levado nos braços de uma poetiza,
Nas asas dos seus versos.

E que ela me fale docemente,
Enquanto me guia pelos céus,
Palavras brandas dos seus poemas,
E me jure que são todas verdades,
E que me ama sim, e jure verdade,
E repita insistente que é para sempre.

Deixe que eu viva esse sonho,
Ciente do sonho, claro,
Mas acreditando seja verdade.

E se me acordares,
Que o faças candidamente,
Para que eu não caia bruscamente do céu,
E me arrebente na realidade dos meus dias.

Mas, pensando melhor,
Deixa-me sonhar só mais um pouco,
E quando acordar, vou dividir contigo o regalo,
E você também vai ouvir a música que eu ouço agora,
Vai sentir o corpo brando, leve e solto,
E vai querer sonhar também,
E eu serei teu guia pelo infinito,
Serei sim o teu poeta.

Eacoelho

ORQUIDEAS DA MEMORIA

Mistérios tamanhos ensejam seu esplendor,
E a sua beleza serena, altiva, que se impõe,
Carregam em sua formosura a pujança da cor,
Envolta de memórias tão vivas até então sossegadas.

Num vaso qualquer, num canto de uma sala qualquer,
Inevitável que me prenda o olhar e aguce a lembrança,
E me lance em flash de algum tempo ido,
Então dormindo sob a guarda do passado.

A sua forma exuberante e solitária de estar,
Beleza contida e exposta de quando em quando,
Aguardada igual rebento fecundo dum grande amor,
Viço que se prolonga igual querer enraizado na razão.

Orquídea da memora dos tempos que não voltam,
Salvo nesses relances de imagens que se fazem,
Nesses instantes que a vejo assim tão solitária,
E me vejo em ti quando a olho assim formosa e só;
Inevitável lembrar de quando me olhavas assim.

EACOELHO